jueves, 17 de julio de 2008

Divulgación IV- Tony Tcheka

TONY TCHEKA

POVO ADORMECIDO

Há chuvas
que o meu povo nâo canta
há chuvas
que o meu povo nâo ri

Perdeu a alma
na parede alta do macaréu

Fala calado
e canta magoado

Vinga-se no tambor
na palma e no caju
mas o ritmo nâo sai

Dobra-se sob o sikó
como o guerreiro vergado
cala o sofrimento no peito

O meu povo
chora no canto
canta no choro
e fala na garganta do bombolon

Grei silêncio
quebrado
nas gargalhadas de Kussilintra
em quedas de agua
moldando pedras
esfriando corpos
esculpidos
no corpo do bissiâo

Bissau, 1993

BATUCADA DA NOITE

Bissau cresce
quando o sol desce
vem com o fio da noite
e só adormece
quando amanhece

O alcohol
e o week-end
inflaman corpos
cheios de adornos

Na noite
há insónias
e sónias de moitos nomes
nâo é só o mote
aquí há funky
há merengada
e antilhesas na madrugada
Lufadas de amor
moldam corpos
suarentos de ardor
há um saracoteio
permanente
na passarelle da noite
sedas flutuantes
coxas remexendo
num sincopado
que da síncope

O odor
mastiga o ar
sem pudor mistura-se
confunde-se
catinga
chanel
paco rabane
água cheiro
suor
e dior
ça va comme ça...
tudo muito very special
O old scotch
dá o toque final
É fatal
afinal porque nâo...

A batucada cresce
abre o espaço
a cidade nâo dorme

Bissau, 1985

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